Água de flor de laranjeira
A escola de antigamente não tem mesmo nadinha a ver com a escola de hoje.
Íamos de bata branca,com as pregas bem vincadas,a cheirar a sabão Clarim.
A mochila não era como as de agora...tinham que durar muito tempo, e nunca eram como aquelas que víamos nas montras...essas eram muito caras.
Tínhamo nos uma caneta de tinta permanente,que enchiamos num frasquinho de tinta azul, e que quase sempre deixava manchas de tinta nos dedos. Lembro me que uma dessas canetas era cor-de-laranja,por fora...cor muito invulgar para esse tempo...mas eu gostava muito dela.
Não me lembro se já havia,mas eu nunca tive, o corrector para quando nos enganàvamos nos ditados... então usávamos uma borracha,do lado azul...que era tão rija que na maior parte das vezes apagava as letras,mas também fazia desaparecerão papel.
Sei que as minhas irmãs mais velhas ainda usaram lousas , pequenos quadros pretos, onde escreviam e faziam contas... já não apanhei esse tempo. Também elas usavam batas na escola comercial ou no liceu. Tinham golas de cor diferente conforme o curso que seguiam...as batas eram azuis,as golas seriam vermelhas e a bata da minha irmã que andava no liceu era preta....tudo isto na escola pública.
As professoras eram ,mais que respeitadas, temidas....muito temidas. As chamadas ao quadro poderiam resultar num "muito bem" ou numas reguadas valentes,com uma régua de madeira bem grossa. A "querida" dona Elsa,minha primeira professora, que tão depressa me chamava a sua casa para chá e bolinhos,dava me umas boas recuadas quando eu não acertava nos problemas....bendita matemática...meu "calcanhar de Aquiles".
E quando havia testes, chamadas "provas", o nervosismo era total. Mal dormia na noite anterior...via muitas vezes se a caneta tinha tinta suficiente..se levava um mata-borrão (umas folhas cor de rosa que ajudava a secar a tinta) , se tinha uma folha de 35 linhas...que seria cuidadosamente dobrada ao alto,de maneira a formar uma margem onde não se podia escrever. No dia da prova, logo de manhã a mãe tinha solução para o nervosismo...uma colher de sopa de água de flor de laranjeira pelo boca abaixo. Remédio Santo!!
E não é que funcionava?? Ou pelo menos acreditávamos que sim...que ficávamos calmos,o nervosismo desaparecia e lá a "prova" corria bem.
Tempos que não voltam...mas que às vezes é bom recordar...
Mas o remédio que a mãe dava em tempos de nervosismo, por vezes ainda faz falta...Em tempos tão estranhos como os que vivemos,dava jeito ter a mãe com o seu frasquinho por perto,para dar a algumas pessoas uma colherada pela boca abaixo.
Quando tudo mais falhar...lembrem se da água de flor de laranjeira... e, é claro,tudo isto é ficção.
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