sexta-feira, 27 de dezembro de 2019









...Não escrevo há seis meses...nem dei pelo tempo a passar de tão depressa ter corrido. Acho que depois de uma certa idade, o tempo não anda, voa.

A vida vai correndo dentro da sua muita normalidade...

As férias de Verão...o calor...que não pára, a chuva que não aparece..."Ai,meu Deus, senão chove estamos tramados....", e depois vem frio e vento quando devíamos andar a banhos em águas quentes que ninguém "apanhou". Mas aquele azul inigualável que só o mar nos pode dar, enche a nossa vista e a nossa alma para mais um ano que há de passar. Ainda conseguimos alguns dias com toda a família, coisa cada vez mais rara, como a própria vida impõe...e sabe tão bem. 

 Já não temos que carregar com mil e um sacos de brinquedos para a areia, nem andar atrás dos putos para não se afogarem, mas ao ver a azáfama com que alguns pais encaram a ida à praia, faz-me sorrir, pensar que já lá estive naquele mesmo lugar, e pergunto para onde foram os anos que entretanto se passaram e que tornaram aquelas duas criaturinhas rechonchudas em dois adultos mais altos que eu.

O Outono, que nem sabíamos bem se era um  Verão atrasado ou um Inverno antecipado, tal era a confusão do tempo, ora frio,ora quente, ora chovia, ora não chovia...e agora chove, e a água estraga as hortaliças todas, mas é bom para as videiras.....mas é chuva a mais...mas ainda não chega....Acho que nunca na vida o ser humano vai ser feliz com aquilo que lhe é dado desfrutar.

O Natal......o Natal. Chamem lhe o que quiserem, mas é uma época bonita...gosto dos enfeites (só em Dezembro), das músicas que se repetem vezes sem conta e se entranham na nossa cabeça, e mesmo sem querermos andamos a cantar "Pra todos um Bom Natal". Se é verdade que é todo o esplendor do consumismo, eu prefiro ver que nessa altura toda a gente procura dar alguma coisa a alguém. Claro que alguns compram para "inglês ver", porque devem um favor a alguém, porque é tradição dar uma prenda àquela pessoa odiosa, que preferíamos não ter pela frente mas tem que ser, senão o que é que vão dizer de mim.....Mas eu compro com a única intenção de dizer a alguém "Quando comprei isto,lembrei me de ti, lembrei me do que gostas, lembrei me do que precisas." Mas isto sou eu, que até sou conhecida por não gostar de ajuntamentos e confusões.

A prenda que eu queria ter, não a consegui. E tal como eu, tantas outras mães e pais, que desejariam ter algo de diferente na vida de alguns filhos...dos que são especiais...dos que são diferentes...dos que têm uma doença para a qual não existe solução na ciência ou na medicina, continuamos à espera. Na noite de Natal lembrei me dos pais do Afonso, da Margarida, e de tantos outros que batalham dia a dia pela vida que lhes foi tirada...pela normalidade dos dias que deixaram de existir, pelas lutas que têm que atravessar tantas vezes para terem aquilo que é seu por direito. Lembro a violência que é terem que recorrer à recolha de pedaços do lixo dos outros , para conseguirem meios para tratamentos e terapias que lhes devolvam um pouco do que perderam. E fico zangada. A estas pessoas o Natal ainda não chegou...Mas eu lembrei me deles...e vou lembrar sempre.

Lembrei me de casais que se separaram e deixaram filhos num vai vem de casa de um pra casa do outro, famílias que perderam os seus queridos, e que o lugar vazio na mesa se vai sempre sobrepôr ao dia que se diz de festa. Lembrei me de tantos miúdos em instituições,enquanto tantos casais procuram adoptar uma criança ,sem sucesso. Lembrei me de tanta injustiça neste mundo que dizemos nosso, de tanto que devemos fazer.

Vem aí o final do ano, o inicio de outro...tempo de balanços...o que foi bom,o que foi mau...o que nunca mais farei, o que irei fazer a partir de hoje. Acho que não consigo chegar a muitas respostas...
Quero mesmo pensar que o novo Ano vai ser melhor, que os meus electrodomésticos não vão avariar, porque só neste último mês avariaram me uns quantos :) , que vou deixar no velho Ano ,os kilos que estão a mais ...Mas quero acreditar que vão haver dias de sol e mar, que os amigos a sério vão continuar no meu campo de visão...que vou conseguir ajudar alguém...

É isto, ajudar alguém. Porque se todos pensarmos assim, o mundo vai ser mesmo melhor e 2020 vai ser um Ano para recordar. 

Já agora, um Bom Ano 2020 !









sábado, 1 de junho de 2019







ERA UMA VEZ....



Era apenas um rapaz simpático...com um sorriso meigo...que conheci quando estudava fora da minha terra.

 Falávamos muito pouco, apesar de , na altura, eu ser muito comunicativa, sempre rodeada de gente com quem me ria e relacionava por diferentes motivos..

Uma amiga comum começou a "brincar " connosco...a tentar fazer de "Santo António"...mas eu morava longe e estava a acabar o ano lectivo...e voltaria para casa...e , claro que não, eu só sou uma rapariga de provincia e nenhum rapaz da cidade me iria achar "muita graça"...

Já de férias , cheguei a casa e estava uma carta à minha espera...Era dele...mas "cum caneco" como é que ele conseguiu o meu endereço? Não me lembro de lho ter dado...Só podia ter sido ela, aquela malandra...

Mas está bem...vamos lá a isto...vamos responder da mesma maneira, numa carta escrita com cuidado e carinho...e colocada no correio com uma mistura de emoções...de ansiedade...de descoberta...

Não demorou muito até que viesse a outra carta, e eu respondia...e vinha mais outra...e os meus dias de férias tornaram-se numa coisa totalmente diferente do que estava à espera...era como se estivesse a ler um livro...cada dia acrescentava mais um capitulo...mais detalhes...sobre mim...sobre a minha vida...

Ao fim de algum tempo, encontrámo-nos num outro lugar...ao fim de tantas cartas já nos conhecíamos bem e foi como se tivessemos estado juntos no dia anterior...ou nunca nos tivessemos separado. Nessa altura já não me imaginava sem ele...as cartas que vinham todos os dias, os telefonemas que faziamos às escondidas da mãe,( porque senão a conta do telefone seria enorme e eu ficaria em apuros).

Ao mesmo tempo, nem sabíamos muito bem o que fazer...Aiiii...que falta me fazia uma folha de papel e uma caneta...assim saberia tudo o que havia de dizer...tudo o que estava a sentir naquele momento...As tais "borboletas no estômago" afinal existem mesmo e eu tinha um monte delas a mexer cá dentro.

Pegou me a mão...e aí eu soube que nunca mais a largaria.  Sentia me uma pessoa muito importante por estar ali de mão dada com ele...Os meus amigos, os amigos dele, que estavam por ali e que não esperavam tal coisa, ficaram ali quase de boca aberta a olhar pra nós.

Que pena eu ter de voltar à terra...e saber que só nos veríamos dali a muito tempo....

Num "planeta" sem computadores, tablets...mensagens e instagrams...a vida era um pouco mais solitária...mas isso levava a  que os momentos que estivessemos juntos fossem apreciados de uma maneira única e especial.

Quando voltei à escola, tornou se mais fácil ...os encontros eram mais frequentes...havia flores a chegar ao meu quarto logo pela manhã...os telefonemas já eram diários...

Passeávamos por Lisboa...a Lisboa que não tinha milhares de turistas...e que ao sábado à tarde estava quase deserta...Não sei como tinhamos tanta coisa que falar...mas tínhamos sempre assunto.

Três anos e meio neste romance, que nos trouxe uma base tão boa e tão forte para o que viria depois.

Planear um casamento...oh sim...um casamento!!!Apesar de não haver quintas...nem lembranças dos noivos para os convidados...nem uma serie de coisas que agora parecem a muitos tão indispensáveis...havia a vontade de fazer uma cerimónia simples e bonita.

Para nós chegava um bolo e um champanhe no final da cerimónia de igreja...mas não...."o que vão as pessoas pensar...alguns vêem de longe e nem uma refeição damos" e bla bla bla...e toda a gente a querer dar uma opinião num assunto que era só nosso...Noivos sofrem !!

Lá chegámos a uma ideia que agradasse a toda a gente...uma refeição simples depois das fotografias e pronto...

Logo de manhã fui à cabeleireira arranjar os meus longos cabelos escuros...e fazer uma maquilhagem bonita e discreta.... A mulher atrasou se...e a maquilhagem ficou muito pouco bonita e ainda menos discreta...."Oh que nervos....o que é que eu vou fazer agora ??"

Cheguei a casa e uma boa amiga ajudou me a limpar a cara e tornar aquela maquilhagem numa coisa mais aceitável. Enfiei o vestido......."Alguém já foi buscar o bouquet" ???  E o bolo já está no restaurante ? Oh pá...mas eu disse que era às 10h !!!!!"

"Bolas...nunca mais me caso...isto dá uma trabalheira...! " Tenho que tirar fotografias....as fotos com toda a gente...com aquele ar angélico de uma noiva em primeiras núpcias...a olhar para o retrato do amado (que estava uma pilha de nervos na casa da minha irmã)...o véu que se prendia em todo o lado...e os putos das alianças todos bem vestidos a fazerem uma birra que não queriam levar alianças nenhumas...quem quisesse que as levasse...." Eu só queria casar e pronto!

Lá fomos pra igreja...essa da noiva se atrasar não era para mim...o que tem que se fazer é para fazer...mais nada.

O pastor não gostou do meu penteado...estava a ver que não me casava e lá fez a cerimónia assim a "fazer um favor a alguém"...e depois mais fotos...e estava um vento imenso...e o véu (que tinha 7 metros...não fazia por menos ) enrolava-se em todo o lado...o vestido já me picava por causa do calor...a minha cara já doía por fazer o mesmo sorriso vezes sem conta para as fotos.

Mas eu estava feliz...muito feliz...o rapaz simpático de olhar meigo, era agora o meu companheiro para a vida...nos braços dele eu sentia me segura...e se pudesse escolher de novo seria sempre ele...

Recordações que ficam...dias que não voltam...mas que nos fazem sentir bem...e que quando os dias são mais negros (que isso do "viver feliz para sempre" tem que se lhe diga) podemos ir buscar ao nosso baú e lembrar do que dissemos, de como tudo foi construído...em alicerces sólidos ,como a amizade que veio primeiro , o respeito pelo outro, a confiança que depositamos na vida de quem nos cativa.

Faria tudo outra vez...talvez sem o véu de 7 metros.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019





Desde que me lembro sempre tive dificuldades com esta coisa da "saudade" ...quando passava por algum lugar , quando estava com alguém que me era querido  e que por alguma razão partia...

Era miúda e chateei a minha mãe para ir a uma colónia de férias, com uma amiga com quem me dava muito bem. Ainda não estava lá há umas hora e já eu carpia com saudades da mãe. Valeu me a paciência ..da minha amiga que me  ajudou a passar os dias. Escrevia cartas (pois...cartas ) todos os dias, porque eu ia estar uma eternidade de uma semana numa colónia de férias  a uns poucos kilometros de casa, mas que me parecia ser do outro lado do globo. Nos dois últimos dias lá andava eu a choramingar, mas porque faltava pouco para voltar a casa e agora é que eu estava a gostar daquilo. Já tinha saudades do que ainda estava a decorrer.

Aconteceu me ao longo da vida muitas situações similares...parvoíce minha, sem dúvida, porque nunca conseguia ficar feliz durante aquele tempo por ter saudades do que ainda não tinha terminado.

Quando morei no estrangeiro, percorríamos kilometros até encontrar uma pastelaria portuguesa que nos servisse uma bica e um pastel de nata. Que saudades tinha daqueles sabores...Aliás, tudo me fazia saudades naquele país. Senti saudades dos portugueses que falam alto nas ruas, do cheiro a choco frito ((eu que até nem gosto de choco)  das ruas de Setubal, do sol quentinho, do rio azul que nos levava ao mar....

A minha mãe faleceu, após uma doença terrivel...Não pude estar fisicamente com ela durante esse tempo...apenas alguns dias...Mas eu acho que ela desistiu de viver, porque aquilo já não era vida e ela deixou se adormecer...Acho que a palavra saudade adquiriu um novo significado nesse dia. Custou me muito adaptar me a uma ausência do tamanho da minha alma...ainda dei por mim a querer ligar para lhe contar as últimas gracinhas do menino, ou como é que ela conseguia fazer aquela carninha estufada que só de me lembrar do cheiro me cria àgua na boca. A saudade é uma palavra que me acompanha desde então...as mães não deviam morrer...é o que eu acho.

Saudades de quando os filhos são pequeninos...daquelas mãozinhas rechonchudas a segurarem a minha...das gargalhadas que davam quando a àgua fria do mar batia nos seus pézinhos. Saudades da minha barriga de grávida...que apesar de por vezes ser um estorvo para apertar os sapatos, me enchia de alegria...até porque lá dentro alguém mexia , e me fazia sentir uma fonte de vida.

Os filhos crescem e surge outro tipo de saudade...o meu filho foi estudar para o estrangeiro e no dia em que partiu parece que me tinham arrancado um bocado de mim. Faltava me um pedaço...não conseguia funcionar, nem respirar direito. Mais uma vez, parvoice minha...A minha mãe viu o meu irmão mais velho partir para a Guiné, e de certeza não foi tão piegas como eu....

Ainda nao me recompus da partida da minha melhor amiga. Foi muito cedo...cedo demais. Ela disse que nos iriamos encontrar na Pascoa..mas nao conseguiu esperar. Essa saudade que junca mais me deixou é como aquela dor que as pessoas sentem quando lhes é amputada uma perna ou um braço...a dor fantasma... doi aquilo que já não se tem...e doi muito. É uma saudade que doi....no membro que já não existe..

Perdi tanto momento bom por causa da saudade do que já não volta...de alguém que já não está. A saudade...a palavra que só nós temos....e que um "I miss you" ou "tu me manques"  não consegue traduzir .

Quando fôr grande não quero nada com essa palavra...quero viver cada momento e ao recordar bons tempos...gargalhadas...sensações boas...dias de sol...cheiro a maresia...quero recordar,não com tristeza...mas com um coração cheio de gratidão por tudo aquilo que me foi dado viver .