sábado, 1 de junho de 2019







ERA UMA VEZ....



Era apenas um rapaz simpático...com um sorriso meigo...que conheci quando estudava fora da minha terra.

 Falávamos muito pouco, apesar de , na altura, eu ser muito comunicativa, sempre rodeada de gente com quem me ria e relacionava por diferentes motivos..

Uma amiga comum começou a "brincar " connosco...a tentar fazer de "Santo António"...mas eu morava longe e estava a acabar o ano lectivo...e voltaria para casa...e , claro que não, eu só sou uma rapariga de provincia e nenhum rapaz da cidade me iria achar "muita graça"...

Já de férias , cheguei a casa e estava uma carta à minha espera...Era dele...mas "cum caneco" como é que ele conseguiu o meu endereço? Não me lembro de lho ter dado...Só podia ter sido ela, aquela malandra...

Mas está bem...vamos lá a isto...vamos responder da mesma maneira, numa carta escrita com cuidado e carinho...e colocada no correio com uma mistura de emoções...de ansiedade...de descoberta...

Não demorou muito até que viesse a outra carta, e eu respondia...e vinha mais outra...e os meus dias de férias tornaram-se numa coisa totalmente diferente do que estava à espera...era como se estivesse a ler um livro...cada dia acrescentava mais um capitulo...mais detalhes...sobre mim...sobre a minha vida...

Ao fim de algum tempo, encontrámo-nos num outro lugar...ao fim de tantas cartas já nos conhecíamos bem e foi como se tivessemos estado juntos no dia anterior...ou nunca nos tivessemos separado. Nessa altura já não me imaginava sem ele...as cartas que vinham todos os dias, os telefonemas que faziamos às escondidas da mãe,( porque senão a conta do telefone seria enorme e eu ficaria em apuros).

Ao mesmo tempo, nem sabíamos muito bem o que fazer...Aiiii...que falta me fazia uma folha de papel e uma caneta...assim saberia tudo o que havia de dizer...tudo o que estava a sentir naquele momento...As tais "borboletas no estômago" afinal existem mesmo e eu tinha um monte delas a mexer cá dentro.

Pegou me a mão...e aí eu soube que nunca mais a largaria.  Sentia me uma pessoa muito importante por estar ali de mão dada com ele...Os meus amigos, os amigos dele, que estavam por ali e que não esperavam tal coisa, ficaram ali quase de boca aberta a olhar pra nós.

Que pena eu ter de voltar à terra...e saber que só nos veríamos dali a muito tempo....

Num "planeta" sem computadores, tablets...mensagens e instagrams...a vida era um pouco mais solitária...mas isso levava a  que os momentos que estivessemos juntos fossem apreciados de uma maneira única e especial.

Quando voltei à escola, tornou se mais fácil ...os encontros eram mais frequentes...havia flores a chegar ao meu quarto logo pela manhã...os telefonemas já eram diários...

Passeávamos por Lisboa...a Lisboa que não tinha milhares de turistas...e que ao sábado à tarde estava quase deserta...Não sei como tinhamos tanta coisa que falar...mas tínhamos sempre assunto.

Três anos e meio neste romance, que nos trouxe uma base tão boa e tão forte para o que viria depois.

Planear um casamento...oh sim...um casamento!!!Apesar de não haver quintas...nem lembranças dos noivos para os convidados...nem uma serie de coisas que agora parecem a muitos tão indispensáveis...havia a vontade de fazer uma cerimónia simples e bonita.

Para nós chegava um bolo e um champanhe no final da cerimónia de igreja...mas não...."o que vão as pessoas pensar...alguns vêem de longe e nem uma refeição damos" e bla bla bla...e toda a gente a querer dar uma opinião num assunto que era só nosso...Noivos sofrem !!

Lá chegámos a uma ideia que agradasse a toda a gente...uma refeição simples depois das fotografias e pronto...

Logo de manhã fui à cabeleireira arranjar os meus longos cabelos escuros...e fazer uma maquilhagem bonita e discreta.... A mulher atrasou se...e a maquilhagem ficou muito pouco bonita e ainda menos discreta...."Oh que nervos....o que é que eu vou fazer agora ??"

Cheguei a casa e uma boa amiga ajudou me a limpar a cara e tornar aquela maquilhagem numa coisa mais aceitável. Enfiei o vestido......."Alguém já foi buscar o bouquet" ???  E o bolo já está no restaurante ? Oh pá...mas eu disse que era às 10h !!!!!"

"Bolas...nunca mais me caso...isto dá uma trabalheira...! " Tenho que tirar fotografias....as fotos com toda a gente...com aquele ar angélico de uma noiva em primeiras núpcias...a olhar para o retrato do amado (que estava uma pilha de nervos na casa da minha irmã)...o véu que se prendia em todo o lado...e os putos das alianças todos bem vestidos a fazerem uma birra que não queriam levar alianças nenhumas...quem quisesse que as levasse...." Eu só queria casar e pronto!

Lá fomos pra igreja...essa da noiva se atrasar não era para mim...o que tem que se fazer é para fazer...mais nada.

O pastor não gostou do meu penteado...estava a ver que não me casava e lá fez a cerimónia assim a "fazer um favor a alguém"...e depois mais fotos...e estava um vento imenso...e o véu (que tinha 7 metros...não fazia por menos ) enrolava-se em todo o lado...o vestido já me picava por causa do calor...a minha cara já doía por fazer o mesmo sorriso vezes sem conta para as fotos.

Mas eu estava feliz...muito feliz...o rapaz simpático de olhar meigo, era agora o meu companheiro para a vida...nos braços dele eu sentia me segura...e se pudesse escolher de novo seria sempre ele...

Recordações que ficam...dias que não voltam...mas que nos fazem sentir bem...e que quando os dias são mais negros (que isso do "viver feliz para sempre" tem que se lhe diga) podemos ir buscar ao nosso baú e lembrar do que dissemos, de como tudo foi construído...em alicerces sólidos ,como a amizade que veio primeiro , o respeito pelo outro, a confiança que depositamos na vida de quem nos cativa.

Faria tudo outra vez...talvez sem o véu de 7 metros.