sábado, 28 de abril de 2018




As avós

Nunca conheci bem os meus avós. 

Ouvi histórias dos avós paternos...gente de Lisboa...mas nunca os vi. Quando nasci já tinham falecido e eu só herdei o nome da avó. (Ainda bem que não se chamava Genoveva :) ) Dizem que ela era muito rígida, pouco dada a graçolas...mau feitio (acho eu)....O avô com um nome esquisito, tinha o seu quê de inventor, mas nunca com muito sucesso.

Os avós maternos, ainda os conheci...muito pouco. Lembro me da avó pequenina e do avô muito grande...um casal improvável em termos de altura. Eram pessoas do campo, gente de trabalho, que quando iam a nossa casa lembro me que traziam (entre outras coisas) pinhões dentro de saquinhos de pano.Apesar de não os ter conhecido bem, e de me recordar de pouco mais que isto, quando penso neles sinto assim um aconchego que não sei explicar.

A ideia de ter uma avó "daquelas dos filmes", sempre bem penteada e a cheirar a lavanda, a preparar bolos e sumo de laranjas para o lanche, sempre bem disposta e cheia de vontade de receber os amigos dos netinhos...nunca tive...acho que é mesmo só nos filmes.

Quando tive os filhotes, achei que "avós" era assim uma coisa que lhes fazia muita falta. Mas fui morar para longe dos que existiam. 

A mãe ainda ficou alguns dias comigo quando a mais velha nasceu. Após 9 filhos e uma mão cheia de netos, dizia ela nunca lhe ter passado  pelas mãos uma que chorasse tanto...pois não ( e eu que o diga)...Mas os dias passaram e ela foi embora. Apesar de não saber ler, contava histórias como ninguém. Pegava num livro apontava para os bonecos e "lia"...e os meninos paravam e ouviam sempre na expectativa do final da história. Cantava canções...tinha uma paciência que nunca teve para os filhos...porque a vida era mais corrida e não havia tempo para "estas coisas". Saudades tuas,avó Rita.

Mas faziam falta...eu queria tanto que os meus filhos tivessem avós.

 A mais velha foi mesmo uma privilegiada. Em vez de uma , teve duas avós emprestadas.

 A avó Sara era uma senhora grande, bem disposta e com uma paciência de" Jó". Quando levávamos a filhota depois de almoço, era certinho que ia com a avó Sara ao café do bairro. A avó bebia café e a filhota distribuia sorrisos, a sua imagem de marca até hoje. Ainda hoje me lembro da imagem dessa avó com a filhota pela mão...a passar pelos vizinhos que a conheciam pelo nome e que faziam sorrir a avó Sara. Ao final da tarde quando a íamos buscar, lá estava ela toda feliz...e a avó ,impávida e serena, como se o barulho dos outros meninos, dos sobrinhos, da familia ao seu redor não existissem. Que saudades avó Sara...

E depois havia a avó Ilda...que tinha uma pequena quinta e que fazia as delícias da filhota, quando lhe punha um sacho pequenino na mão (feito de propósito para a menina) e lá iam abrir valas para a rega da horta. Quantas sestas a filhota dormiu numa rede de baloiço, embrulhada em mantinhas e embalada pelo vento...quanta comida alentejana ela comeu, sem birras, sem nada "passado"...E quando nasceu o filhote, também foi neto. E a quinta foi recreio para brincadeiras, para ver as galinhas...para saberem que os ovos vinham mesmo dali e não cresciam nas prateleiras dos supermercados.

Mãe é quem gera ? É quem ama ? é quem cria? E as avós ? quem são as avós ? São as que têm tempo para aconchegar...as que fazem as coisas ao ritmo dos passinhos pequeninos dos meninos, que podem esperar todo o tempo do mundo,
até eles comerem a sopinha, porque já não têm que correr para o emprego. São o porto seguro quando a mãe não deixa comer o chocolate, ou o pai mandou para cama. São aquelas que lhes conta as histórias que nós já esquecemos...são verdadeiras super-mães.

Que saudades , avós.



terça-feira, 24 de abril de 2018



...do azul ao verde....

Gosto do mar...sempre gostei muito. Nasci numa cidade do interior onde mar era uma coisa que só se via na televisão. Os meus pais nunca tiveram carro, a familia era grande e as deslocações quase impossiveis...

Então ainda esperei uns anos até ver o elemento azul...enorme...lindo.

 Não consigo precisar em termos de tempo, mas a recordação  mais antiga é a de umas férias na Praia da Barra. Tanto que ansiávamos as férias, e nessa mesma altura eu e as mais novas apanhámos papeira... Lá fomos nós ...com papeira e tudo... A mãe não gostava do mar, dizia que lhe provocava tristeza...nunca vestiu um fato de banho...mas ia connosco e o farnel para uma tarde na praia. Nem lá ela descansava..."oh miúda, põe o chapéu...não atires areia à tua irmã"....a praia...o mar...

Depois viemos viver para uma cidade junto ao mar...mas não era assim tão "junto"...tinhamos que ir de carro...que não tinhamos. Então de vez em quando "umas almas caridosas" levavam as miúdas a ver o mar, ou algo parecido. A estrada ladeada de montes de sal fazia adivinhar o azul , grande , imenso, que íamos ver...Mas a grande parte das vezes nem saíamos do carro...enquanto os nossos "benfeitores" liam o jornal, até decidirem voltar pra casa...e pronto...já tinhamos visto o mar...ou pelo menos cheirado a maresia.

Muito mais tarde voltámos a viver junto ao mar...aí já tinha a minha casa e carro e podíamos ver o mar tantas vezes quantas desejássemos. Logo de manhã...ainda a praia estava deserta e nós já lá estávamos...as gaivotas, essas tontas, andavam pelo areal e nem se assustavam porque tudo aquilo era delas. Ou então ao final da tarde...lá voltavam as gaivotas para apanhar as migalhinhas deixadas pelos lanches dos veraneantes. Habituámos os filhos a verem o azul como a côr mais amiga...a deixarem se mergulhar na àgua...a cheirar aquele cheiro salgado...a não terem medo das gaivotas.

As voltas da vida trouxeram nos até ao verde...não sem muito protesto, porque o azul é que era lindo, majestoso.

 E aos poucos aprendemos a ver o verde como uma côr calma e serena...afinal havia tantos tons de verde, tantas formas...e havia pássaros, daqueles que chilreiam tão afinados...e havia silêncios do tamanho do mundo...ou sons de cascatas a correr,umas vezes suavemente, outras vezes na fúria dos invernos rigorosos. E havia ruínas de casas, outrora habitadas por famílias que viviam  do trabalhar da terra, do leite das cabrinhas...histórias sem fim de gentes que não conheci e que conseguia imaginar nas suas lides...o resto de uma janela...de uma lareira...quantas neves conheceram...

...tudo tão diferente...tudo tão indispensável...

Aprendi a ser grata pelo lugar onde estou, mas também pelos lugares onde passei...De que vale ver a vida como uma viagem, se não apreciarmos a paisagem ? Cada salpico de uma onda, cada estalar de um ramo que pisámos, o silêncio...o ruído...não conseguíamos viver sem isto, pois não?

domingo, 22 de abril de 2018

...casa...


Depois de um dia de trabalho,chegar a casa sabe tão bem.  Eu sempre gostei de chegar a casa...é o meu lugar seguro, o meu castelo. E ainda dentro da casa existem outros lugares especiais...a cozinha (sempre gostei de cozinhas) , a varanda com vista para a serra...

Quando era miúda a casa dos pais, que era também a minha casa na altura, era a proteção, a segurança...o lugar onde sempre poderia voltar.

 Nessa casa existia um cantinho que era só meu : o cantinho da varanda ,do segundo andar onde eu vivia, , onde  me sentava e via passar o "mundo". Era lá que lia os livros dos "Cinco", mergulhava naquelas aventuras como se minhas se tratassem. O engraçado era que os "Cinco" passavam a vida a passear por prados e vales, e levavam sempre sanduiches maravilhosas, com ingredientes que não eram assim tão vulgares, pelo menos na minha casa. Então sentava-me no cantinho da varanda, com um livro e ia saboreando uns pãezinhos com manteiga enquanto lia. Naquele momento saía daquele apartamento e viajava por todos aqueles lugares cheios de aventuras e mistérios. Só saía de lá quando ouvia..."Onde é que aquela miúda se meteu ?"

Agora tenho a minha própria varanda, onde gosto de me sentar ao final da tarde , e olho a serra e aquelas casinhas espalhadas por lá e invento histórias de pessoas que poderiam lá morar...aventuras que nunca se passaram...personagens dum mundo que é só meu. E é tão bom.

A minha primeira casa...a casa onde criei os meus filhos...a casa dos meus pais...a minha casa actual...Em todas encontrei a segurança que precisava, o abrigo em tempos tumultuosos. Ainda hoje procuro que a minha seja uma casa onde os meus filhos queiram sempre voltar...onde pessoas possam vir e encontrar abrigo,atenção,abraço...Se não existir isso , então não será uma casa...serão apenas quatro paredes sem vida dentro.

Casa é risos e lágrimas, gargalhadas,discussões, dias bons e dias menos bons, é chá e torradas, é o cheiro de um bolinho acabado de fazer, é confusão e azáfama, é a música a tocar, ver o filme do  costume no sofá, é o gato a ronronar,é descanso e harmonia...

Se fosse eu que mandasse, toda a gente teria uma casa assim...um lugar onde sempre podemos voltar e sentir o aconchego do cheirinho da "comida da mãe" a espalhar se por todo o lado.

sábado, 21 de abril de 2018

...sem beijos nem abraços...

...continuamos em tempos de experiências...não me entendo muito bem com isto, mas hei de lá chegar.

Hoje o dia amanheceu cinzento...outra vez...Sábado é o dia em que me posso levantar mais tarde, e aproveitei mais um bocadinho no vale de lençois e soube muito bem.


Mas também é o dia em que tenho que me virar para a cozinha, e adiantar refeições....Ligar a música, fechar as portas para não ser incomodada e lá comecei eu. Alguém disse que cozinhar é uma maneira de amar as pessoas ...e eu amo as minhas pessoas. Dá me prazer vê-los a saborear as minhas comidinhas.  Melhor que dar beijinhos e abraços...nisso eu não sou muito boa. 

A minha mãe era assim, acho eu. Na altura estava muito ocupada a ser criança e nem me apercebia muito. Não fui habituada a muitos beijos e manifestações de ternura, e também não sentia falta...A mãe mostrava o seu amor cozinhando para nós, tratando das roupas, tentando ver se nada nos faltava. Sinto falta desse amor...perdi-o há muitos anos.

Ainda sou assim...nada de muitos "apertos" e  conversas melosas...se amo,cuido...é o que sei fazer. 

Quem disse que para haver amor tem que haver beijos e abraços ? De vez em quando lá me agarrava à mãe e dava-lhe um abracinho, e gostava de sentir o cheiro dela, mas era assim "coisinha rápida"..."Larga-me Lisa, tenho que acabar o almoço !! " E eu largava-a e ria. 

A mãe , no final do dia (não havia milhentos canais na televisão) juntava se a nós no "quarto das miúdas" e lá estávamos um bocadinho no paleio, e a rir às bandeiras despregadas, com as recordações de familiares que nunca conhecemos, que moravam " lá na terra". Também isso era amor...sem beijos nem abraços.

Passaram tantos anos desde essa altura, e sinto tanta saudade, mas as recordações ficaram...sem beijos nem abraços.

Acho que a idade traz de volta a vontade de um abracinho de quando em vez...Melhor que os abracinhos do companheiro de uma vida, dos filhos, não existe...O abraço que transmite segurança, o abraço que nos pede colo, o abraço de quem não queremos largar...

A vida trouxe me várias pessoas...e a melhor delas todas também não gostava de beijos nem de abraços...mas era parte de mim. Também ela partiu, sem beijos nem abraços, mas o amor que sempre nos ligou estava lá..."queria tanto que estivesses aqui comigo."...mas eu não pude estar.

...sem beijos nem abraços...mas com tudo aquilo que existe em mim , eu amo as minhas pessoas...não são muitas...cabem pra aí numa mão cheia...mas por essas eu faço tudo aquilo que está ao meu alcance...

O que um dia na cozinha nos leva a pensar......sem beijos nem abraços...

quarta-feira, 18 de abril de 2018

...eu disse que ia escrever e aqui estou eu....mais um blog ...mais um diário, ou um partilhar da minha opinião sobre tantos assuntos. Vamos a ver como me vou sair....

até já

Constança