segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019





Desde que me lembro sempre tive dificuldades com esta coisa da "saudade" ...quando passava por algum lugar , quando estava com alguém que me era querido  e que por alguma razão partia...

Era miúda e chateei a minha mãe para ir a uma colónia de férias, com uma amiga com quem me dava muito bem. Ainda não estava lá há umas hora e já eu carpia com saudades da mãe. Valeu me a paciência ..da minha amiga que me  ajudou a passar os dias. Escrevia cartas (pois...cartas ) todos os dias, porque eu ia estar uma eternidade de uma semana numa colónia de férias  a uns poucos kilometros de casa, mas que me parecia ser do outro lado do globo. Nos dois últimos dias lá andava eu a choramingar, mas porque faltava pouco para voltar a casa e agora é que eu estava a gostar daquilo. Já tinha saudades do que ainda estava a decorrer.

Aconteceu me ao longo da vida muitas situações similares...parvoíce minha, sem dúvida, porque nunca conseguia ficar feliz durante aquele tempo por ter saudades do que ainda não tinha terminado.

Quando morei no estrangeiro, percorríamos kilometros até encontrar uma pastelaria portuguesa que nos servisse uma bica e um pastel de nata. Que saudades tinha daqueles sabores...Aliás, tudo me fazia saudades naquele país. Senti saudades dos portugueses que falam alto nas ruas, do cheiro a choco frito ((eu que até nem gosto de choco)  das ruas de Setubal, do sol quentinho, do rio azul que nos levava ao mar....

A minha mãe faleceu, após uma doença terrivel...Não pude estar fisicamente com ela durante esse tempo...apenas alguns dias...Mas eu acho que ela desistiu de viver, porque aquilo já não era vida e ela deixou se adormecer...Acho que a palavra saudade adquiriu um novo significado nesse dia. Custou me muito adaptar me a uma ausência do tamanho da minha alma...ainda dei por mim a querer ligar para lhe contar as últimas gracinhas do menino, ou como é que ela conseguia fazer aquela carninha estufada que só de me lembrar do cheiro me cria àgua na boca. A saudade é uma palavra que me acompanha desde então...as mães não deviam morrer...é o que eu acho.

Saudades de quando os filhos são pequeninos...daquelas mãozinhas rechonchudas a segurarem a minha...das gargalhadas que davam quando a àgua fria do mar batia nos seus pézinhos. Saudades da minha barriga de grávida...que apesar de por vezes ser um estorvo para apertar os sapatos, me enchia de alegria...até porque lá dentro alguém mexia , e me fazia sentir uma fonte de vida.

Os filhos crescem e surge outro tipo de saudade...o meu filho foi estudar para o estrangeiro e no dia em que partiu parece que me tinham arrancado um bocado de mim. Faltava me um pedaço...não conseguia funcionar, nem respirar direito. Mais uma vez, parvoice minha...A minha mãe viu o meu irmão mais velho partir para a Guiné, e de certeza não foi tão piegas como eu....

Ainda nao me recompus da partida da minha melhor amiga. Foi muito cedo...cedo demais. Ela disse que nos iriamos encontrar na Pascoa..mas nao conseguiu esperar. Essa saudade que junca mais me deixou é como aquela dor que as pessoas sentem quando lhes é amputada uma perna ou um braço...a dor fantasma... doi aquilo que já não se tem...e doi muito. É uma saudade que doi....no membro que já não existe..

Perdi tanto momento bom por causa da saudade do que já não volta...de alguém que já não está. A saudade...a palavra que só nós temos....e que um "I miss you" ou "tu me manques"  não consegue traduzir .

Quando fôr grande não quero nada com essa palavra...quero viver cada momento e ao recordar bons tempos...gargalhadas...sensações boas...dias de sol...cheiro a maresia...quero recordar,não com tristeza...mas com um coração cheio de gratidão por tudo aquilo que me foi dado viver .