segunda-feira, 4 de junho de 2018

...livros...

...gosto do cheiro a livros...cadernos novos.... Às vezes até penso que se alguma vez tivesse um negócio, seria de certeza uma livraria/papelaria.

Em casa sempre houve livros...de todas as cores e tamanhos... Os livros do pai, a colecção do Camilo Castelo Branco...esses eram vermelhos, letras pequeninas...e tantos , tantos mais, que eu via o meu pai ler quando chegava do trabalho...os livros das irmãs mais velhas... os jornais "religiosamente" dobrados pelo meu irmão mais velho.

Quando começou a chegar a altura de ir para a escola comecei a tomar mais atenção...finalmente eu ia ter os meus "papeis", os "meus livros.

Os primeiros cadernos eram de duas linhas...e escrevíamos com canetas de tinta permanente. E eu não me dava muito bem com essas canetas que insistiam sempre em deitar tinta onde não deviam e deixavam me o dedo indicador cheio de tinta azul...e usávamos papel mata borrão...côr-de-rosa...que fazia a tinta secar mais depressa...Lembro-me de uma caneta que tive, com um aparo dourado e que por fora era côr-de-laranja... recordações...

A professora Dona Elsa...austera...exigente...mas que me achava muita gracinha, porque eu era espertalhona e faladora...Tão depressa me levava a sua casa para lanchar no intervalo da aula, como me dava umas boas reguadas se eu não acertasse com os cálculos da Matemática.....aii as contas....

Mandava-nos fazer cópias de letrinhas e pequeninos textos, com as letras todas dentro daquelas duas linhas...muito bem desenhadinhas...mas o meu nome começava com uma letra cheia de floreados e às vezes lá ia um risco pra fora " Oh menina...vamos lá repetir essa letra..."

No início dos anos lectivos lá íamos comprar uns caderninhos, os livros principais, e aquele cheiro aumentava a minha expectativa para mais um ano...tratava-os tão bem que no final do ano ainda pareciam que tinham sido pouco usados.

E outra brincadeira que fazíamos, os miúdos da nossa idade, era ir às livrarias ,antes do 7 de Outubro ,quando começavam as aulas , e pedirmos "horários".
Os "horários eram pequenos cartões com espaço para marcar as diferentes aulas e disciplinas que tinhamos ao longo do dia. Para quê que nós, putos da escola primária queríamos isso...Era só por ter...eram grátis...uns mais bonitos que outros...Mas eu gostava de ir, porque assim tinha desculpa para entrar na livraria e sentir aquele cheirinho do papel.

Quando comecei a ler bem, ia com a minha irmã à carrinha da Gulbenkian "requisitar" livros, que teríamos que devolver uma semana depois. Mais livros a entrar naquela casa...Parece que ouço a mãe a dizer, o que repetiria ao longo da vida, "Pra quê que queres mais livros...ainda não lestes os outros que tens ..."

E,mais velhinha,descobri o gosto pelas bibliotecas. A Biblioteca Municipal da cidade onde eu vivia...tantos livros, estantes tão altas, antigas...aí nem era só o cheiro a livros, mas também o cheiro a antigo, a velho. Até a bibliotecária não era lá muito nova,não. E sempre a mandar calar sempre que falavámos mais alto, enquanto fazíamos trabalhos de casa, ou pesquisávamos matérias para algum projecto (Havia vida antes do Google ). Por mim passava lá as tardes, mas a mãe não achava muita graça à ideia. 

E depois aquela biblioteca já não chegava e quando abriu outra na Universidade, lá fui eu inscrever-me e também passava lá algum tempo e os livros eram diferentes e havia janelas...e cheirava a "novo".

Aprendi a fazer dos livros o meu espaço de "evasão". Agarrava num e partia para outro lado...via novas pessoas...novas histórias...tantas horas de leitura...e o cheiro a livros...

As minhas pessoas gostam de livros...oferecem livros...partilham histórias...

Ainda hoje , quando me apetece "viajar" no tempo pego no meu livro de eleição...e leio outra vez. Tive que ler na escola e apaixonei-me pelo estilo, pelos locais, pelas pessoas...quando muitos não conseguiram ler uma só vez, eu perdi a conta às vezes que o li. Para mim, é sempre relaxante tomar um café ao final da tarde e conversar com o João da Ega...

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