sábado, 15 de agosto de 2020

 




Podem contar me todas as maravilhas da tecnologia :  o prático que é, a longa lista que permite ter sem carregarmos peso, mas para mim livro que é livro tem que ser em papel. Há lá coisa melhor que o cheiro de livros...que a ânsia de folhear  para sabermos o que aquele parágrafo nos vai trazer.

Em miúda, fui habituada a ver livros em casa...sempre.

 A minha mãe não sabia ler, não teve a oportunidade,porque ainda em criança saiu da "terra" e foi para Lisboa para aprender o serviço doméstico. Coitadinha da Rita pequenina, 8 anos (creio), a ir para um sítio desconhecido,com pessoas desconhecidas a trabalhar para os senhores das casas grandes da capital. 

Nunca mais teve tempo para aprender a ler...mas a minha mãe sabia muitas coisas...ouvia os telejornais,as noticias, mantinha se informada. E uma coisa que ela sempre nos incentivava era a ler, a estudar. "Porque não lês um livrinho, em vez de me estares a chatear ? Parece que a ouço....Costumávamos ir à carrinha da Gulbenkian, que semanalmente levava montes de livros, para crianças e adultos...e requisitávamos os livros que gostávamos até à semana seguinte em que os entregaríamos e trazíamos outros. O orçamento familiar não dava para comprar muitos livros...mas no aniversário de cada um , o pai fazia a "avaria" de comprar um livro para oferecer. Lembro me de num dos meus aniversários, o pai me oferecer um livro muito bem embrulhado. Fiquei tão entusiasmada...mas depressa veio a desilusão...era um livro grande, sem "bonecos", com letra miudinha. O titulo era o "O Malhadinhas" e até hoje não o li. Tentei mostrar boa cara e agradecer ao meu pai, e espero sinceramente que ele não tenha reparado no meu desânimo.

O meu pai lia muito....Sentava se no sofá a ler, quando chegava do trabalho...(naquele tempo os maridos não ajudavam as esposas a tratar do jantar e muito menos com 7 filhas em casa) e só parava quando íamos jantar.

As minhas irmãs liam imenso. Habituei me a ver livros sobre tudo e mais alguma coisa...a Pearl Buck , o Somerset Maugham, foram alguns dos nomes que apareciam por lá. Bons autores,segundo sei.

E quando surgiu a minha vez de começar a ler, lia tudo o que me aparecia à frente. Era uma coisa que me dava imenso prazer. Era como se saísse de onde estava e mergulhasse em novas realidades, nos ambientes das histórias, era uma com os personagens. Na escola secundária, não apreciei nenhum dos livros que tive que ler, a não ser um. Era aluna de Humanidades, e tinha mesmo que ler livros...mas detestei alguns dos livros que achei horriveis do principio ao fim. Que me desculpe quem gosta, mas quem pode achar graça ao "O Judeu"...ou "A Sibila"...coisa mais sem graça. Ainda gostei dos Lusíadas, mas mais nada.

Os livros para mim , têm que me levar para outros sítios, agradáveis , e quem quer ir para o Patio da Inquisição....

As bibliotecas sempre foram fascinantes para mim...O cheiro a livros...o silêncio ...o estudo...coisas que sempre adorei.

Se me virem a ler um livro, é porque já não estou ali...estou no meio das páginas, a descobrir algum mistério, a ver novos mundos, a aprender coisas novas. É para isso que se lê.

Alguns livros são muito diferentes daquilo que as capas nos apresentam. Ainda há poucos dias li um livro que tinha o título mais "piroso" que podia ter, e contudo todo o texto era um pouco de História, do tempo em que a Inglaterra enviava para a Austrália os condenados por crimes , grandes ou pequenos. Foi uma leitura tão interessante.

Mas pronto...eu devo ter alguma fantasia, ou mania, ou seja o que fôr...porque para mim, há um livro a que volto regularmente...algum dia vou sabê lo de cor.  Deixo que vocês adivinhem qual é.... Mas quando "estou" no Ramalhete, não me perturbem, não façam perguntas...estou à espera do meu amigo João da Ega , para me contar as últimas notícias de Lisboa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário